Resumo: Este
texto visa analisar os metadados utilizados para
descrever o artigo de teste que se encontra na plataforma Dspace e verificar se
eles são adequados para descrever esse objeto do ponto de vista da preservação
digital. Ao analisar os metadados utilizados para descrever o artigo de teste
na plataforma Dspace, é necessário esclarecer o significado da plataforma, suas
ferramentas e a maneira como foi criada. Para tal, buscamos referências como o
artigo de Rodrigo Santis e o documento e-Arq Brasil, Modelo de Requisitos para
Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos elaborado pela
Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos do CONARQ.
Palavras Chaves: DSpace,
Metadados, Software, Biblioteca Digital, Documento de Arquivo, Preservação Digital.
A plataforma Dspace é um ambiente de software, sendo
uma ferramenta disponível para o gerenciamento e manutenção de bibliotecas
digitais, documentos de arquivos e museus. O DSpace é um projeto feito em parceria entre
uma das principais instituições de pesquisas tecnológicas, o Massachusetts
Institute of Technology (MIT, 2007) e uma das maiores empresas do setor de
tecnologia, a Hewlett-Packard (HP, 2007). Um fator importante na escolha da
ferramenta é a credibilidade das instituições envolvidas, pois tais
instituições referendam e garantem a qualidade e a continuidade do desenvolvimento
da ferramenta.
Segundo
estatísticas da Registry of Open Access Repositories (ROAR, 2007), o DSpace já
é a ferramenta mais utilizada para bibliotecas digitais no mundo, superando
inclusive ferramentas mais antigas como o E-Prints (EPrints, 2007). Além disso,
o DSpace é a ferramenta que possui a comunidade de colaboradores com o maior
número de atividade entre os participantes cadastrados.
Além
disso, o DSpace é um software gratuito, e que se apóia em aplicações
periféricas também gratuitas (como bancos de dados e servidores web), sem
qualquer custo de licenciamento de software. Outra vantagem do DSpace é o fato
dele ser adepto da iniciativa de arquivos livres, a Open Archives Iniciative
(OAI, 2007).
Metadados
são as informações utilizadas para descrever e identificar os recursos digitais
(tais como Título, Autor, Data de Criação etc.). O padrão de descrição de
metadados suportado pelo protocolo OAI-PHM e com o qual o DSpace é compatível,
é o Dublin Core (DCMI, 2007). Este padrão foi proposto em 1995 por um grupo
multidisciplinar que contou com a participação de biblioteconomistas,
museólogos e profissionais da área de informática. O Dublin Core propõe a
utilização de um conjunto de quinze elementos básicos para descrever um recurso
digital, aos quais pode-se aplicar qualificadores. O recurso digital deve estar
acessível independentemente de configurações de rede, ou de mudanças no nome do
servidor, por exemplo. A maneira de garantir isso é a utilização de
identificadores persistentes, que, na verdade, são identificadores baseados em
endereços únicos (URIs), que servem como meio de referenciar um determinado
recurso digital (handle).
No
trabalho elaborado pelo CONARQ, o e-Arq Brasil, foi adotada uma concepção
baseada na definição do termo metadado conforme estabelecido no Glossário da Câmara Técnica
de Documentos Eletrônicos (CTDE) do Conselho Nacional de Arquivos, isto é,
“dados estruturados que descrevem e permitem encontrar, gerenciar, compreender
e/ou preservar documentos arquivísticos ao longo do tempo”.
O que significa “Evento de preservação”?
Evento
de preservação refere-se às ações de preservação realizadas
nos documentos arquivísticos digitais,
tais como migração (atualização, conversão), compressão, validação de
assinatura digital, decifração, verificação de fixidade, cálculo hash,
replicação, verificação de vírus e validação. Relaciona-se com o componente
digital e com o agente responsável pela ação de preservação.
O que significa cada evento de preservação?
O e-Arq Brasil traz a definição de cada
evento e os elementos de metadados que o caracterizam e que devem ser
registrados. É importante notar que esta listagem mostra os eventos mais
importantes de serem registrados. Não se esgotaram as possibilidades; os órgãos
e entidades podem incluir outros eventos que julgarem necessários.
1) Compressão:
Registro da compressão ou descompressão de documentos. Registrar informações
tais como: identificação da compressão, data da compressão, agente responsável
pela compressão e resultado da compressão.
2) Decifração:
Registro da decifração de documentos. Registrar informações tais como:
identificação da decifração, data da decifração, agente responsável pela
decifração e resultados da decifração.
3) Validação de assinatura digital:
Registro de validação da assinatura digital de um documento de acordo com o
certificado digital deste. Registrar informações tais como: identificação da
validação, data da validação, agente responsável pela validação e resultados da
validação.
4) Verificação de fixidade:
Registro da verificação de fixidade de um documento, ou seja, se os recursos
utilizados para garantir a fixidade (assinatura digital, marca d’água, checksum etc.) não foram corrompidos.
Registrar informações tais como: tipo de recurso de autenticação, identificação
da verificação, data da verificação, agente responsável pela verificação e
resultados da verificação.
5) Cálculo hash:
Registro do cálculo hash de criptografia. Registrar
informações tais como: identificação do cálculo, data do cálculo, agente
responsável pelo cálculo e detalhes do cálculo.
6) Migração:
Registro de procedimento de migração de documento. Registrar informações tais
como: identificação da migração, data da migração, agente responsável pela
migração, resultado da migração e consequências da migração.
7) Replicação:
Registro de procedimento de replicação de documento. Registrar informações tais
como: identificação da replicação, data da replicação, agente responsável pela
replicação e consequências da replicação.
8) Verificação de vírus:
Registro de verificação de vírus no documento. Registrar informações tais como:
identificação da verificação, data da verificação, agente responsável pela
verificação e detalhes da verificação.
9) Validação:
Registro de validação de documento. Registrar informações tais como:
identificação da validação, data da validação, agente responsável pela
validação e detalhes da validação.
Partindo para a análise dos metadados
utilizados para descrever o artigo de teste da plataforma Dspace, observa-se
que tais metadados são: o nome do autor, data, identificador e descrição.
De acordo com Luís Fernando Sayão, “a
definição dos tipos e dos contornos das informações necessárias para se
instruir corretamente os processos de preservação digital foi objeto de grandes
discussões num passado recente. Porém, apesar dos inúmeros pontos de tensões,
os debates foram capazes de estabelecer um consenso em torno de cinco grandes
categorias de informação. Essas categorias são materializadas por uma descrição
aprofundada e ampla dos aspectos técnicos, custodiais e legais dos recursos
digitais que devem ser traduzidos por metadados de preservação. Resumidamente,
são as seguintes:
1) proveniência –
os metadados de preservação devem registrar informações sobre a história do
objeto desde sua origem, traçando a sua cadeia de custódia e de propriedade;
2) autenticidade –
os metadados de preservação devem incluir informações suficientes para validar
que o objeto é de fato o que diz ser e que não sofreu alterações – intencionais
ou não - não documentadas;
3) atividades
de preservação –
os metadados de preservação devem documentar as ações tomadas ao longo do tempo
para preservar o objeto digital e as consequências dessas ações sobre aparência,
usabilidade e funcionalidades do objeto;
4) ambiente
técnico –
os metadados de preservação devem descrever as dependências técnicas
necessárias para a apresentação e uso dos objetos digitais, tais como hardware, sistema operacional e software de aplicação;
5) gestão
de direitos –
os metadados de preservação devem registrar todos os itens relacionados às
questões de propriedade intelectual que limitem as ações de preservação, de
disseminação e uso por parte de usuários de hoje e do futuro (LAVOIE; GARTNER,
2005)” (SAYÃO, 2010)
Tomando
por base as leituras realizadas e as informações disponibilizadas pelos autores
estudados, pode-se verificar que os metadados encontrados no artigo de teste
são insuficientes para descrever este objeto do ponto de vista da preservação.
Primeiramente, não trazem consigo as informações do objeto desde sua origem,
nem a cadeia de custódia e de propriedade. Além disso, não há registro a
respeito da validação de que o objeto realmente é o que diz ser e que o mesmo
não sofreu alterações. Seguindo, estes metadados não trazem consigo a
documentação das ações tomadas ao longo do tempo para preservar o objeto
digital, nem mesmo a descrição das dependências técnicas necessárias para a
apresentação e uso de objetos digitais, como hardware e software. Por último, os metadados de preservação devem registrar todos
os itens relacionados às questões de propriedade intelectual, o que não ocorre
no artigo de teste.
Referências:
Conselho
Nacional de Arquivos (Brasil). Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos. e-ARQ Brasil: Modelo de
Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos /
Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos. 1.1. versão. - Rio de Janeiro :
Arquivo Nacional, 2011. Disponível em: <http://www. documentoseletronicos. arquivonacional.gov.br/media/ e-arq-brasil-2011-corrigido. pdf>Acesso
em 24/01/2013
RONDINELLI, R.C., Gerenciamento
arquivístico de documentos eletrônicos, Rio de Janeiro, Editora FGV, 2002.
SANTIS,
Rodrigo. DSPACE PARA A IMPLANTAÇÃO DE BIBLIOTECAS DIGITAIS – APLICAÇÃO A UMA
COLEÇÃO DE RECURSOS MUSICAIS (pdf). Disponível em: <www.bibliotecadigital.unicamp. br/document/?down=23481>Acesso
em 24/01/2013
SANTOS, Vanderlei Batista dos;
INNARELLI, Humberto Celeste; SOUSA, Renato Tarciso Barbosa de. Arquivística: temas contemporâneos: classificação, preservação digital e gestão
do conhecimento; 3ª ed: Distrito Federal: SENAC, 2009.
SAYÃO, Luís Fernando. UMA OUTRA FACE DOS
METADADOS: INFORMAÇÕES PARA A GESTÃO DA PRESERVAÇÃO
DIGITAL, 2010. Disponível em: <http://www.periodicos.ufsc.br/ index.php/eb/article/view/ 12528>Acesso em 24/01/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário